Toyota varre primeira fila no Bahrein e conquista pole após temporada de decepções
- Carlos Rossi | Kabé
- 7 de nov.
- 6 min de leitura
Atualizado: 9 de nov.

Equipe japonesa encerra sexta-feira com dobradinha inédita em 2025 e busca nona vitória consecutiva na pista do deserto
A recuperação veio no momento mais importante. Depois de amargar uma das piores campanhas desde que retornou ao endurance, a Toyota Gazoo Racing finalmente voltou a sorrir na última etapa do Mundial de Endurance da FIA. Kamui Kobayashi cravou 1min46s826 na Hyperpole e garantiu a primeira posição de largada da equipe na temporada, com Brendon Hartley completando a ocupação total da primeira fila ao ficar a apenas 0s151 do companheiro de marca. A corrida de oito horas acontece neste sábado, às 10h (horário de Brasília), no Circuito Internacional do Bahrein.
O resultado representa uma guinada impressionante para a escuderia que domina o traçado árabe desde 2017, acumulando oito triunfos seguidos. O desempenho na classificação contrasta brutalmente com o que a equipe mostrou ao longo do ano, marcado por resultados frustrantes que tiraram qualquer chance de briga pelo título. Agora, a missão é encerrar o ciclo com um retorno ao pódio que não acontece há algumas provas.
A jornada até a pole começou ainda na quinta-feira, quando os dois GR010 HYBRID completaram 90 minutos de atividades pela manhã e outros 90 ao entardecer. As temperaturas atingiram 30°C no primeiro treino livre, com o programa concentrado em comparações mecânicas, estudos sobre compostos de pneu e adaptação ao asfalto abrasivo de 5,412 quilômetros. Mike Conway, Kamui Kobayashi e Nyck de Vries terminaram em quarto lugar com o carro # 7, enquanto Sébastien Buemi, Brendon Hartley e Ryo Hirakawa ficaram em sétimo com o # 8. Todo o pelotão Hypercar se apertou em menos de um segundo, sinalizando a guerra que viria.
Durante a pausa de três horas entre as sessões, engenheiros analisaram dados e ajustaram configurações. Quando as luzes do circuito se acenderam para o segundo treino livre, já com temperaturas mais amenas, o trabalho se voltou para degradação e preservação dos compostos. As simulações de stint longo renderam informações valiosas sobre como administrar oito horas de competição em uma superfície que castiga severamente a borracha. O treino transcorreu praticamente sem interrupções, permitindo que ambas as equipes executassem seus planos completamente.
Kobayashi resumiu a primeira jornada com cautela: o início parecia adequado, mas tratava-se apenas do dia inaugural e tudo evoluiria ao longo do fim de semana. O foco nos stints longos deixou trabalho pendente para extrair o máximo do carro, embora a sensação fosse de maior força comparada às provas anteriores. Conway concordou que o começo foi decente e que a posição no grid representava avanço significativo frente às últimas rodadas, com o ritmo de prova parecendo sólido durante a tarde. De Vries enxergou sinais positivos após as duas primeiras sessões, com atenção voltada ao ritmo de corrida e comportamento dos pneus, fundamentais em uma maratona de oito horas.
Buemi celebrou o retorno ao Bahrein e o início positivo da última jornada de treinos livres da temporada, reconhecendo que o traçado de alta degradação exigia programa totalmente dedicado a compreender os compostos e mantê-los funcionais pelo maior tempo possível. Hartley não registrou problemas significativos, com tudo transcorrendo suavemente, embora a avaliação do ritmo de prova ainda demandasse cautela. O foco no gerenciamento dos pneus e no equilíbrio ideal para vida útil dos compostos visava garantir força no final da corrida, maximizando as chances de reconquistar o pódio. Hirakawa encerrou elogiando o dia produtivo, com simulação de qualificação no início do segundo treino mostrando tempos próximos e desempenho encorajador nos stints longos, após comparações entre compostos duros pela manhã e médios à tarde.
A sexta-feira começou com uma surpresa desagradável. No terceiro treino livre, realizado pela manhã, a Ferrari # 50 de Antonio Fuoco, Nicklas Nielsen e Miguel Molina liderou com 1min49s725 após 30 voltas. O carro # 7 da Toyota apareceu grudado em segundo, ficando a meros 0s012 do topo também após 30 giros. A Ferrari # 83 de Robert Kubica, Yifei Ye e Phil Hanson completou o top-3 a 0s339, seguida pelo Aston Martin # 009 de Matteo Riberas, Marco Sorensen e Romain De Angelis a 0s410. O Cadillac # 12 da equipe Jota, pilotado por Alex Lynn, Nato e Will Stevens, apareceu em quinto a 0s427, com o Peugeot # 94 de Loïc Duval, Mikkel Jensen e Théo Pourchaire em sexto a 0s566. Mas o drama estava na 13ª posição: o # 8 desabou para lá, a impressionantes 1s849 do topo após suas 30 voltas. A diferença abismal entre os dois GR010 acendeu o alerta.
A equipe respondeu com trabalho intenso. Quando a qualificação oficial começou, o cenário já havia mudado completamente. Os dois carros da Aston Martin ocuparam as primeiras posições: Nick Tincknell, Harry Gamble e Alex Gunn colocaram o # 007 na ponta com 1min47s290, enquanto Riberas, Sorensen e De Angelis ficaram a 0s131 no # 009. A Toyota apareceu logo atrás, com Kobayashi posicionando o # 7 em terceiro a 0s210 da referência. O Peugeot # 93 de Paul Di Resta, Mikkel Jensen e Jean-Éric Vergne garantiu o quarto posto a 0s353. Mas a grande notícia foi a recuperação espetacular de Hartley: ele resgatou o # 8 da 13ª posição da manhã para o quinto lugar, ficando a 0s546 do topo. O BMW # 15 de Dries Vanthoor, Raffaele Marciello e Kevin Magnussen completou os seis classificados para a Hyperpole a 0s582.
O pôr do sol sobre o deserto marcou o início da sessão final, com iluminação artificial já acesa e temperatura do ar em 28°C. Para Kobayashi, marcava a quarta participação na qualificação durante o ano ao lado de Hartley, que havia conquistado a pole position neste mesmo circuito na temporada anterior. A estratégia foi clara: atacar cedo. Os dois pilotos Toyota partiram para o tempo forte logo nas primeiras voltas disponíveis, enquanto rivais aguardavam. Ambos os GR010 estabeleceram suas únicas voltas rápidas relativamente cedo na sessão, imediatamente conquistando as primeiras colocações. Depois disso, foram para os boxes, deixando que os demais tentassem superar as marcas.
O japonês, que havia estabelecido o segundo melhor tempo no treino derradeiro da manhã, ficando a diminutos 0s012 da ponta como aquecimento, encontrou os limites perfeitos do GR010 e cravou 1min46s826 que ninguém superaria. Hartley ficou colado a 0s151, garantindo o 1-2 inédito no ano. Nenhum dos Hypercars restantes conseguiu igualar os tempos da dupla japonesa.
O Peugeot # 94 de Duval, Jensen e Pourchaire ocupou a terceira posição a 0s340, com o # 93 de Di Resta, Jensen e Vergne em quarto a 0s382. O Cadillac # 12 da Jota, com Lynn, Nato e Stevens, completou o top-5 a 0s717, enquanto o Aston Martin # 009 de Riberas, Sorensen e De Angelis fechou a Hyperpole em sexto a 0s798. A derrocada dos Aston Martin impressionou: os carros que dominaram a qualificação regular simplesmente desapareceram quando a pressão máxima chegou, com o # 007 nem sequer figurando entre os seis primeiros da sessão final.
Kamui não escondeu a satisfação após cravar a pole. "Estou muito feliz por estar na pole novamente. É o resultado de um ótimo trabalho e um grande esforço da equipe", declarou o piloto que também comanda a escuderia como chefe. Ele reconheceu as dificuldades enfrentadas: "Tivemos uma temporada difícil até agora, então estou muito orgulhoso de termos conseguido dar a volta por cima e conseguir uma dobradinha hoje". Mas manteve os pés no chão: "Todos se esforçaram muito para isso, mas amanhã é outro dia e sabemos que não será fácil. Nosso objetivo é vencer. Estamos bem preparados e deve ser uma corrida emocionante".
Hartley também celebrou, apesar de ter ficado com o segundo posto. "Uma classificação muito boa de toda a equipe. Estamos muito satisfeitos com o desempenho", afirmou. O neozelandês admitiu ter sido cauteloso: "Fiz uma volta muito arrumada, apesar de ter havido alguns pequenos erros e ter sido um pouco conservador em alguns pontos. Kamui acertou em cheio e me levou ao poste. Eu estava desesperado para conseguir, mas parabéns a ele". O importante, segundo Hartley, foi garantir a melhor posição possível: "Estou contente por partir da primeira linha, o que me dá a melhor hipótese possível de terminar no pódio".
Os números demonstram a magnitude da reviravolta. O # 7 saltou do segundo lugar no TL3, ficando a meros 0s012 do líder (o que representa 1min49s737), para o 1min46s826 da Hyperpole, melhora superior a 2s9. O # 8 de Hartley fez progressão ainda mais impressionante: saiu de 13º colocado com 1min51s574 no TL3 para 1min46s977 na sessão final, ganho brutal de quase 4s6. O trabalho noturno da equipe entre quinta e sexta-feira claramente produziu os ajustes necessários para transformar dois carros com performances díspares em uma dupla imbatível.
Com 18 carros Hypercar no grid e menos de um segundo separando o pelotão nas sessões de quinta-feira, a largada às 10h de Brasília promete uma batalha intensa. A Toyota larga na frente pela primeira vez em 2025, mas toda a Hyperpole se espremeu em menos de 0s8. O desafio agora é transformar a vantagem inicial em resultado concreto durante as oito horas sob o sol escaldante e depois sob os refletores, mantendo viva a sequência de oito vitórias consecutivas que a equipe construiu no Bahrein desde 2017.
Carlos Rossi / Red Line Motorsport
Jornalista e Repórter Fotográfico




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