Leclerc surpreende e conquista pole no GP da Hungria; Verstappen larga apenas em 8º
- Carlos Rossi | Kabé
- 2 de ago.
- 4 min de leitura

Ferrari brilha na classificação em Hungaroring enquanto o tetracampeão mundial enfrenta fim de semana complicado com problemas de aderência
A hierarquia da Fórmula 1 foi completamente subvertida no sábado em Hungaroring, onde Charles Leclerc transformou um fim de semana aparentemente tormentoso para a Ferrari na conquista mais surpreendente da temporada. Enquanto Max Verstappen protagonizava seu pior desempenho classificatório do ano, ficando apenas em oitavo, e a McLaren via sua supremacia dos treinos livres evaporar nos momentos decisivos, o monegasco encontrou a fórmula mágica em condições adversas para cravar 1m15s372 e deixar Oscar Piastri e Lando Norris na esteira de sua volta espetacular.
O show começou bem antes das luzes verdes se acenderem para o Q1. Com nuvens carregadas ameaçando o céu húngaro e temperaturas oscilando, a classificação se transformou numa loteria meteorológica onde estratégia e timing valeram mais que puro desempenho. Gabriel Bortoleto provou isso magistralmente, colocando sua Sauber numa surpreendente sétima posição e desbancando ninguém menos que o tetracampeão mundial – uma façanha que ressoa muito além dos números no grid.
A derrocada de Verstappen expôs as vulnerabilidades de uma Red Bull irreconhecível. O holandês, acostumado a dominar fins de semana inteiros, se viu impotente diante de um carro que simplesmente se recusava a responder aos comandos. "Nada realmente funcionou... cada volta na classificação foi uma luta", confessou o piloto, evidenciando uma crise técnica que vai muito além de ajustes pontuais. Sua frustração ecoava pelos boxes: mudanças na configuração que tradicionalmente geravam respostas imediatas agora resultavam em mais confusão.
Paralelamente, Yuki Tsunoda vivenciava drama similar, sendo eliminado precocemente e carregando o peso de expectativas não correspondidas. "Fiquei perto do Max durante todo o fim de semana e isso é positivo para mim", buscou consolo o japonês, numa declaração que, ironicamente, revelava o quão baixo haviam caído os padrões da família Red Bull. Laurent Mekies não conseguiu mascarar a decepção: "É justo dizer que não demos aos nossos pilotos o carro que eles queriam."
Do outro lado do paddock, a McLaren assistia sua hegemonia dos treinos livres se desfazer como areia entre os dedos. Norris havia comandado sexta-feira com autoridade absoluta, cravando 1m15.624s no FP2 e declarando confiante: "Tenho uma boa noção do que precisamos do carro." Piastri ecoava o otimismo: "Nossa competitividade pareceu forte." Andrea Stella chegou a falar em "primeiro dia positivo e produtivo". Mas quando a pressão apertou no Q3, a máquina papaia perdeu o brilho que tanto impressionara 24 horas antes.
Foi nesse cenário de incertezas que a Ferrari orquestrou sua ressurreição mais dramática. A Scuderia havia chegado à classificação carregando quatro jogos de pneus macios novos para cada carro, numa estratégia que poderia ser vista tanto quanto preparação como desespero. Lewis Hamilton, companheiro de Leclerc na equipe italiana, viveu o lado sombrio dessa gangorra emocional – perdendo o Q3 por apenas 15 milésimos de segundo numa eliminação que expunha como pequenos detalhes podem decidie destinos.
Leclerc, por sua vez, transformou pressão em combustível puro. Após cometer um pequeno erro na primeira tentativa do Q1 que o forçou a usar pneus extras, o monegasco encontrou sua redenção quando mais importava. "A classificação foi extremamente difícil hoje. O Q1 e o Q2 foram realmente complicados. Eu estava no limite em ambas as sessões", revelou posteriormente, destacando como as condições instáveis – incluindo gotas de chuva no Q2 – tornaram cada decisão crucial.
Para Leclerc, a conquista transcendeu técnica para se tornar catarse pessoal. "No Q3, eu sabia que precisava de uma volta limpa para chegar à P3, mas nunca pensei que fosse o suficiente para a pole position. É provavelmente a pole position mais inesperada da minha carreira", confessou o piloto, cuja 27ª pole – a 254ª da Scuderia – chegou quando menos se esperava.
Hamilton, testemunha silenciosa dessa ressurreição, limitou-se a parabenizar o companheiro: "Isso mostra o que pode acontecer quando as coisas se encaixam. Tenho muito trabalho pela frente." Sua eliminação precoce servia como lembrete cruel de que, na Fórmula 1, vitória e derrota frequentemente se separam por frações imperceptíveis.
A geografia do grid revelou outras histórias fascinantes. George Russell aproveitou as temperaturas mais amenas para levar sua Mercedes ao quarto posto, enquanto a Aston Martin capitalizou seu trabalho de casa colocando Fernando Alonso e Lance Stroll em quinto e sexto, respectivamente. Foram pequenas vitórias que, em um sábado de tantas reviravolta, assumiram proporções épicas.
Liam Lawson continuou sua trajetória ascendente pós-Bélgica, conquistando o nono lugar numa demonstração de que jovens talentos prosperam justamente em cenários caóticos como este. Ao lado de Isack Hadjar em décimo, a Racing Bulls pelo menos salvou as aparências na classificação após os dissabores de Tsunoda.
Enquanto isso, nas garagens da Sauber, Gabriel Bortoleto vivia sua própria montanha-russa emocional. Apesar de admitir que "não foi a melhor sensação que tive com o carro", o brasileiro encontrou velocidade quando mais importava. Sua confiança transparecia: "Acredito que estamos em uma boa posição para lutar por resultados competitivos aqui na Hungria." Paralelamente, Nico Hulkenberg enfrentava um fim de semana truncado, perdendo o FP1 para Paul Aron – que por sua vez sofreu com problemas técnicos que limitaram drasticamente seu aprendizado.
O caos se completou com histórias de oportunidades perdidas espalhadas pelo grid. Pilotos que pareciam destinados ao Q3 viram seus sonhos evaporarem por décimos cruéis, enquanto outros surfaram na imprevisibilidade para alcançar posições inimagináveis horas antes.
Ao final, Leclerc emergiu como protagonista improvável de uma classificação que redefiniu expectativas para domingo. Sua pole position representa muito mais que um tempo no cronômetro – simboliza como a Fórmula 1 continua sendo um esporte onde talento, timing e um pouco de sorte podem superar todas as probabilidades. "A largada e a curva 1 serão fundamentais. Farei absolutamente tudo para manter o primeiro lugar", prometeu o monegasco, consciente de que transformar pole em vitória exigiria toda sua maestria. Com Verstappen precisando remontar da oitava posição numa pista notoriamente difícil para ultrapassagens, o Grande Prêmio da Hungria promete ser tão imprevisível quanto foi sua classificação.
Carlos Rossi – Kabé / Red Line Motor Sport
Jornalista | Repórter Fotográfico
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