Piquet pilotou o Brabham turbo campeão de 1983 em evento histórico no Estoril
- Carlos Rossi | Kabé
- 30 de set.
- 4 min de leitura

Tricampeão mundial guiou pela última vez os dois carros que marcaram sua parceria vitoriosa com a BMW, reunindo lendas da Fórmula 1 em Portugal
Dez anos separam as duas únicas ocasiões em que Nelson Piquet voltou a comandar a máquina turbo que lhe deu o título mundial de 1983. Depois do Formula 1 Legends, realizado em Spielberg, na Áustria, em 2015, o brasileiro cruzou o Atlântico novamente para reencontrar não apenas o Brabham BMW BT 52 Turbo, mas também o M1 Procar que garantiu seu primeiro troféu junto à marca alemã, em 1980. O palco escolhido foi o Circuito do Estoril, nos arredores de Lisboa, durante um fim de semana promovido pela Dener Motorsports no final de agosto, dedicado exclusivamente ao tricampeão.
A operação contou com apoio direto da BMW Group Classic, responsável por transportar as relíquias históricas e assegurar sua preparação impecável através de mecânicos especializados. Dener Pires, amigo pessoal do piloto, coordenou a iniciativa que transformou a pista portuguesa — onde a categoria máxima do automobilismo mundial correu durante anos — em cenário de celebração.
Piquet distribuiu sua presença entre os dois dias programados. Inicialmente, executou um shake-down com ambos os veículos, procedimento técnico que antecede demonstrações públicas. Na sequência, realizou voltas comemorativas exclusivamente com o monoposto turboalimentado que simboliza sua conquista mais emblemática na categoria.
A dimensão do encontro ganhou peso adicional com presenças que reconstituíram a atmosfera dos anos 1980. Bernie Ecclestone, então proprietário da estrutura Brabham, deslocou-se especialmente para o evento. Gordon Murray, engenheiro responsável pelo projeto dos carros daquela era, também compareceu, assim como antigos membros da equipe de mecânicos que trabalhavam nas corridas.
O Brabham BT 52 Turbo havia marcado presença anteriormente no Festival de Velocidade de Goodwood, tornando a demonstração portuguesa seu segundo compromisso operacional em 2025, consolidando o compromisso da montadora em manter operacionais suas joias históricas.
Em conversa exclusiva durante o evento, Piquet compartilhou suas impressões sobre o reencontro com as máquinas que definiram capítulos cruciais de sua trajetória.
Questionado sobre suas sensações ao rever o Brabham turbo décadas depois, respondeu: "O carro era e é lindo. É uma obra de arte. Foi a melhor época da minha vida."
Sobre qual memória permanece mais vívida da temporada vitoriosa de 1983, o piloto destacou a intensidade dos trabalhos de desenvolvimento: "Lembro-me dos muitos test drives. Passei cerca de 33.000 quilômetros no Brabham BMW BT52 Turbo durante os testes. Além disso, foram cerca de 7.000 quilômetros durante os 15 fins de semana de corrida de Fórmula 1, incluindo os treinos e as sessões de qualificação. Tínhamos uma equipe de corrida, uma equipe de testes da Brabham e uma equipe de testes da BMW. Dirigíamos muito. Naquela época, talvez fosse mais pessoal e mais como uma família dentro da equipe."
Ao avaliar os elementos determinantes para a conquista do campeonato, Piquet enfatizou aspectos técnicos: "O motor turbo da BMW, embora tenha sido desenvolvido depois da concorrência. Desenvolvemos o carro e o motor em 1982 e vencemos o campeonato em 1983. Foi fantástico. A BMW também utilizou sistemas de transmissão de dados por telemetria pela primeira vez. Estes não eram projetados para dirigir ou ajustar o carro, mas apenas para o motor. Mesmo assim, foram muito úteis. Conseguimos resolver problemas técnicos rapidamente. Por exemplo, tivemos problemas com o consumo de combustível que puderam ser resolvidos imediatamente após o fim de semana de corrida, durante os testes de direção. E também tínhamos uma caixa de câmbio extremamente potente."
Sobre as dificuldades em controlar novamente um carro com potência brutal para os padrões modernos, admitiu: "Naquela época, era normal lidar com a potência. Hoje é muito difícil e eu freio muito mais cedo do que antes."
A relação entre Piquet e a BMW produziu números expressivos ao longo de cinco temporadas na Fórmula 1, entre 1982 e 1985, sempre com chassis Brabham equipados com propulsores turbo da marca alemã. Seu ano inaugural na parceria, 1982, resultou em 11º lugar geral pilotando o BT 50 Turbo. A evolução para o BT 52 Turbo em 1983 trouxe o título mundial. As campanhas seguintes com o BT 53 Turbo (1984) e BT 54 Turbo (1985) o colocaram em quinto e oitavo lugares, respectivamente.
Antes disso, em 1980, Piquet já havia conquistado o campeonato da série Procar ao volante de um BMW M1, mesma temporada em que ficou vice-campeão mundial de Fórmula 1. No ano seguinte, venceu as 1000 km de Nürburgring dividindo um M1 Grupo 5 com Hans-Joachim Stuck.
Sua carreira completa na categoria máxima abrangeu o período de 1978 a 1991, totalizando 204 grandes prêmios. Dessas participações, conquistou 23 vitórias — sete delas com motores BMW —, acumulando 485,5 pontos. Subiu ao pódio outras 37 vezes, sendo 20 como segundo colocado e 17 em terceiro. Além do título de 1983 com a montadora alemã, ergueu os troféus de campeão mundial em 1981 e 1987. Carlos Rossi / Red Line Motorsport
Jornalista e Repórter Fotográfico
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